MEDICINA UFOP
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Manejo da úlcera de MMII de etiologia venosa

Ir para baixo

Manejo da úlcera de MMII de etiologia venosa Empty Manejo da úlcera de MMII de etiologia venosa

Mensagem  EduardoCM Dom Jun 08, 2014 7:23 pm

A hipertensão venosa está relacionada com mudanças estruturais dos capilares que resultam em extravasamento de fibrina, sequestro de leucócitos e eritrócitos, trombocitose e inflamação. A hipóxia regional, associada com os eventos acima descritos levam a edema, hiperpigmentação, fibrose do subcutâneo e formação da úlcera. Existem quatro objetivos principais no manejo do paciente com insuficiência venosa periférica: 1)Melhora dos sintomas, 2)Redução do edema, 3)Manejo da lipodermatoesclerose e 4)Cura das úlceras
Todos os pacientes se beneficiam da elevação do membro que auxilia no retorno linfático e venoso o que, por consequência, melhora a oxigenação por reduzir a hipertensão local sendo excelente para os 4 objetivos de tratamento do paciente. O exercício também deve ser instituído para todos os pacientes, se a limitação de deambular é absoluta o simples flexionar do tornozelo já se mostra benéfico, a idéia é utilizar a bomba muscular da perna para ajudar a mobilizar o sangue. É comum que a pele do paciente fique seca, pruriginosa e eczematosa, portanto esses quadros devem ser tratados com agentes tópicos, todavia deve-se evitar o uso de produtos alergênicos a fim de evitar a comum dermatite de contato que muitos desses pacientes tem associada a seu quadro.
A terapia compressiva contínua é essencial para o tratamento da doença venosa periférica, todavia é mister se atentar as contraindicações desse tratamento. Se o paciente se apresentar com celulite deve-se ser instituída antibioticoterapia com elevação do membro antes de fazer compressão. É importante lembrar que cerca de 20% das úlceras de MI são mistas (arterial e venosa) portanto a confirmação de que a doença é essencialmente venosa é importante antes do começo da terapia. O padrão ouro da pressão arterial do membro inferior é invasiva, o que não se justifica na maioria dos pacientes, em regime ambulatorial pode-se tentar palpar o pulso pedioso e tibial posterior, sua presença tem VPP bom para função arterial preservada, todavia seu VPN não é suficiente para afirmar que o paciente tem doença arterial periférica uma vez que é comum pacientes saudáveis não terem esse pulso palpável. O melhor método ambulatorial para avaliar essa condição é o ITB que tem sensibilidade e especificidade boa para diagnosticar DAP. Pacientes com úlcera venosa e ITB alterado (inferior a 0.9) devem ser tratados por um angiologista. Um ITB abaixo de 0.6 é contra-indicação absoluta para medidas compressivas enquanto um ITB entre 0.6 e 0.9 é contra-indicação relativa. Ignorar as contraindicações pode levar a necrose e amputação do membro com ulcera
Uma vez decidido fazer a terapia compressiva contínua, deve-se utilizar meias com compressão progressiva que tem um gradiente (maior pressão distal, menor pressão proximal). Alternativamente as meias, pode-se utilizar curativos com compressão progressiva que deve ser feito por profissional treinado. É importante lembrar que revisões sistemáticas já comprovaram que a cura da úlcera é significantemente mais rápida com uso de medidas compressivas, por isso o paciente deve ser estimulado a usar corretamente, apesar de ser muito desagradável. Não há diferença de objetivo terapêutico entre usar bandagens ou meias compressivas, portanto a escolha deve ser baseada na disponibilidade do serviço.
A prescrição da meia compressiva varia dependendo do caso do paciente, aqueles com úlcera ativa devem utilizar meias firmes (30-40mmHg), lembrar que a meia que pode ser comprada sem prescrição médica tem um nível de suporte mínimo (<15mmHg) e é insuficiente para esses casos. Existem meias que vão até o joelho e outras que vão até a pelve, para o tratamento das úlceras de MI as que vão até o joelho já são suficientes e o paciente deve ser informado a não puxar a meia até a fossa poplitea. A região onde está a úlcera pode ser coberta com um curativo simples e a meia colocada por cima.
Devido a péssima aderência de pacientes, principalmente aqueles com úlceras grandes e comprometimento grave da drenagem venosa as meias compressivas, a abordagem farmacológica pode ser uma boa opção. A Escina é um fitoterápico disponível no Brasil que pode ser utilizado em substituição a compressão, apesar de não ter resultados iguais está comprovado sua efetividade comparado ao placebo por ensaios clínicos randomizados, em um estudo teve equivalência terapêutica a compressão. A aspirina é uma excelente opção, disponível no SUS e comprovadamente reduz o tempo necessário para resolução da úlcera a dose a ser usada é de 300mg, estudos mostram que compressão + AAS é superior a compressão sozinha.
A dermatite de estase é extremamente comum nesses pacientes e se manifesta como uma conjunção de prurido, deposição de hemossiderina, eritema e descamação. A pele deve ser limpa diariamente, de preferencia com preparações hipoalergênicas como o Neutrogena, emolientes podem ser usados (óleo de amêndoas 5%) preferencialmente com a pele molhada. Barreiras podem ser utilizadas em casos irritativos, em nosso meio o óxido de zinco é um dos mais disponíveis o ideal é usar o produto sem adição de fragrâncias e somente na região próxima a úlcera. Quando diagnosticada a dermatite de estase sintomática deve ser tratada com corticoides tópicos como a betametasona.
É inequívoca a importância de desbridar tecido desvitalizado para a cura de úlceras venosas. Não há evidências que suportem o uso contínuo de antibióticos para tratar úlceras crônicas não infectadas. Um ambiente úmido é essencial para a cura da úlcera, todavia não existem evidências apoiando o uso contínuo de fibrinolíticos ou anti-sépticos.
Outro ponto essencial para o manejo da úlcera é o curativo a ser feito, apesar de ter abundante evidência de sua importância, a modalidade a ser escolhida não altera significativamente o desfecho, os mais utilizados são os de hidrocoloide, hidrogel e alginato. Se a úlcera for relativamente plana com crostas e seca a melhor opção é o hidrogel. Se a ferida tem cavidade grande com espaço vazio e moderado exudato devemos usar hidrocoloide, se o exudato for abundante a melhor opção é o alginato.
Em resumo, se a pessoa tem uma úlcera devemos entrar com AAS 300mg e elevar as pernas, se tiver infectada devemos tratar, se não tiver devemos fazer um curativo baseado na quantidade de exudato, se o ITB da pessoa estiver normal ou o pulso palpável devemos utilizar uma meia compressiva por cima do curativo, se o ITB estiver alterado podemos usar a Escina que é barata e tem atividade comprovada, todavia o ideal é o encaminhamento desse paciente. Se, em qualquer momento, mostrar sinais de dermatite de estase usar cremes de barreira, emolientes e corticoide tópico.
Fonte:http://www.uptodate.com/contents/medical-management-of-lower-extremity-chronic-venous-disease?source=machineLearning&search=Venous+ulcer&selectedTitle=1%7E26&sectionRank=1&anchor=H28#H28

EduardoCM

Mensagens : 8
Data de inscrição : 12/05/2014

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos